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07/01/09

Depoimento da “DALA” Para SIC (Programa da Fátima Lopes) realizada em 07 de Janeiro de 2009

Quando soube que a SIC, precisando melhor o programa “Fátima”, projectava apresentar uma reportagem sobre o Maurício Silva, fiquei deveras satisfeita.
E é igualmente com imensa satisfação que presto o depoimento que me foi solicitado.

O Maurício considera que lhe salvei a vida por tê-lo trazido, tão jovem ainda, comigo para Portugal. Era impossível, na altura, contactar com os seus familiares, principalmente com a sua mãe.
Em Luanda, vivia-se o horror da guerra, a incerteza, a ameaça constante, nomeadamente a desconfiança por ele ter nascido no centro de Angola e ser cognominado de “bailundo” e eu própria ter vivido, com os meus pais e irmãs, no planalto do Bié desde os dois meses de idade. Não havia transportes entre a capital e o Sul, onde se situavam as nossas terras tão amadas. Não tivemos por isso outra solução senão embarcar para Portugal num dos últimos voos da “ponte aérea”, convencidos intimamente que o regresso seria em breve… Assim não aconteceu e ambos permanecemos em Portugal até agora, com tremendíssimas dificuldades iniciais, pois chegámos de mãos vazias, sem nada, absolutamente nada de nosso.
O Maurício foi o primeiro a ter emprego, no semanário “O Pais”, dirigido pelo José Vacondeus (ainda hoje um bom amigo seu) e pôde começar a ajudar na nossa subsistência. Eu ingressei mais tarde na ANOP e dali transitei para a Notícias de Portugal e desta para a Lusa.
A minha ligação com o Maurício manteve-se inalterável, mesmo depois de ele se ter casado – fui sua madrinha – com telefonemas diários e visitas frequentes. Digo mais: também, até certo ponto, lhe devo a vida. Há precisamente um ano, recebi dos médicos a notícia (amarga) que teria de ser operada com urgência a um tumor maligno, o segundo dos últimos vinte anos.
Apesar do seu trabalho no “Correio da Manhã” lhe ocupar parte da noite, de chegar a casa, em Amora, à 1 hora da madrugada e até mais tarde, o Maurício estava pontualmente em minha casa, em Telheiras, às sete da manhã para me acompanhar nos exames no IPO, no pós-operativo e depois nos tratamentos que duraram meses. Tudo com enorme empenho, sem demonstrar nunca o mínimo cansaço ou enfado.
Trabalhador consciente, ele “construiu” sobre bons alicerces a sua vida. Tem a sua casa, a sua família – uma mulher impecável sob todos os aspectos e dois filhos de quem gosto mesmo muito. O jornalista Belmiro Vieira, na altura em que chefiava a redacção do “Correio da Manhã” elogiava as qualidades do Maurício, dizendo-me que ele era um dos melhores funcionários do jornal.
Durante tantos anos – 34! – não conseguimos saber do paradeiro dos seus familiares. Pela minha parte, tentei ter notícias através de elementos amigos que tinha na UNITA, mas sem quaisquer resultados.
Com o fim da guerra, finalmente, o Maurício e eu própria tivemos a grande alegria de “encontrar” a mãe Leontina viva, apesar de tremendos sofrimentos passados, e bem assim os restantes familiares: muitos irmãos, primos e numerosos sobrinhos – nada menos do que 20! Um bom ranchinho!
Penso que o resto desta história cabe ao Maurício continuar a escrevê-la… Com o melhor do seu coração. Porque vale a pena. É uma história linda!

2 comentários:

Gi disse...

O Maurício é mesmo assim! De uma disponibilidade extrema para todos.

Maurício sabes que ontem, tanto a Teddy Lover como a Patti (já comentram aqui o teu blogue) me telefonaram, excitadíssimas, a dizer que te estavam a ver na Fátima lopes.

Hás-de pôr aqui a entrevista, sim?

Unknown disse...

Obrigado Mãe querida. Pois Você foi mais que uma Mãe. Por Isso agradeço tudo o que fez por mim e jamais irei esquecer os maus e os bons momentos que junto partilhamos neste Mundo.